MAY NOT LOAD - CAPITULO 1 AMIZADE

May Not Load – Capítulo 1: Amizade

Dia após dia, ano após ano, vamos interagindo com um rol de pessoas com quem nos vamos cruzando numa encenação fortuita de encontros e desencontros que vai dando forma às nossas vidas. Um acumular de experiências mais ou menos marcantes, mais ou menos importantes, mais ou menos férteis. Neste processo há um tipo particular de interacções com maior relevância que vamos arquivando e empilhando naquela gaveta interna que todos temos com o título de amizades, mas mesmo estas vêm em formatos distintos – umas, perduráveis, vão-se adaptando às flutuações da vida, enquanto outras se limitam às contingências de uma determinada época e se esgotam a seu tempo. Não obstante, umas e outras são fundamentais no modo como nos vão tocando, influenciando, modelando ao longo de um processo de troca, de aproveitamento mútuo, de partilha de experiências recíprocas.

Para Robert Panda, as amizades que fazem parte do seu arquivo pessoal não são a preto e branco. Para o artista que passou anos a fio a pintar no espaço urbano da sua cidade, as amizades são a cores. Cada qual com uma tonalidade própria que nos revela e identifica uma personalidade, uma experiência. O que o artista apresenta em “May Not Load – Capítulo 1: Amizade” é precisamente uma encenação figurada em forma de instalação onde o próprio reflecte sobre alguns eventos particulares que se desenrolaram entre si e algumas amizades marcantes, numa abordagem honesta que vai adquirindo contornos ora emotivos e poéticos, ora judiciosos e críticos. Uma reflexão, em suma, sobre um acumular de acontecimentos bons e maus que o foram configurando em momentos específicos e significativos da sua vida.

Naquilo que visa ser o primeiro momento de uma reflexão intimista abrangente, a instalação que vemos em “May Not Load – Capítulo 1: Amizade” é constituída por dois elementos – um vídeo onde Robert Panda vai tecendo uma narrativa de natureza biográfica retalhada em cinco episódios encadeados, junto com um grupo escultórico formado por várias figuras empilhadas de pendor simbólico, cada qual com a sua cor, em representação dos relacionamentos aos quais alude. Ao longo do vídeo vemos o artista a articular um desabafo pessoal à medida que a pilha de figuras se vai amontoando, de forma desconcertada, num outro plano. A encenação tem por base o código de cores que identificam, por analogia, cada figura, cada amizade, mas também emoções, acontecimentos e coisas, revelando elementos das histórias que o autor vai recitando – do modo como o branco passou a ser cinzento como as paredes das cidades, do rosa que o próprio também ansiava ser mas que acabou por se picar no espinho castanho, dos vermelhos rosas azuis pretos e até amarelos que deu a quem dourado já era, ou do verde que quando misturado com outras cores resulta sempre em castanho. De todo um complexo orgânico de afectos, intensidades, deslumbramentos e desilusões que expressam particularidades do seu percurso pessoal mas que facilmente também encontram eco nas nossas próprias experiências, nas nossas próprias narrativas, na nossa própria paleta de cores. 

Miguel Moore