Sobre

Robert Panda é um artista português que iniciou o seu percurso no submundo do graffiti, a pintar nos subúrbios de Lisboa. O seu projecto de instalação escultórica de rua intitulado “Os Estúpidos”, uma abordagem filosófica à parvoíce humana, tem por base a colocação de figuras antropomórficas estilizadas e amigáveis produzidas com materiais como papel e fita adesiva, fibra de vidro ou cimento, em vários locais de modo a surpreender e a interagir com os transeuntes. O seu trabalho instigante tem sido igualmente apresentado em vários festivais e eventos artísticos, e exposições em Portugal e no estrangeiro.



COMO COMEÇOU :

A estupidez é uma das características fundamentais da condição humana. Da simples lentidão mental à pura idiotice, o conceito pode exprimir tanto uma qualidade ou estado temporário causado por determinados factores, como uma condição permanente sem resolução. A essência deste projecto tem por base a ideia de que não existe limite para a estupidez das pessoas. Ser-se estúpido é estúpido. Todas as pessoas são diferentes, mas todas as pessoas são estúpidas. E quando digo pessoas, quero dizer mesmo todas. Incluindo eu. É tempo de acolhermos esta nossa estupidez de braços abertos.


As origens deste projecto remontam a 2011, quando Portugal foi profundamente afectado pela crise da dívida soberana e forçado a pedir um resgate financeiro a instituições internacionais com consequências devastadoras. Querendo denunciar a estupidez dos políticos, burocratas, agentes financeiros e outros que tais, dei início a uma série de acções de rua como pendurar de pontes e viadutos efígies que representavam as pessoas responsáveis pela crise, que moldei de forma um pouco tosca com papel e fita adesiva. Contudo, ao reflectir sobre a natureza deste comentário, apercebi-me que estava mal direccionado. Todos nós éramos responsáveis. Todos nós éramos igualmente estúpidos. Decidi então alterar o objectivo do projecto de forma a sublinhar esta característica que nos é inerente e comecei a trabalhar numa série de esculturas antropomórficas deformadas com o intuito de as colocar em situações e contextos estúpidos.

A primeira instalação foi produzida nos Açores. A peça ganhou vida num aterro sanitário localizado nos arredores da cidade de Ponta delgada, na ilha de São Miguel. Sentado confortavelmente e alheado no meio das pilhas de lixo e os gangues invasores de gaivotas vorazes, esta primeira peça que apresentou o Estúpido ao mundo visava ser um comentário crítico ao consumismo e ao desperdício, ajudando as pessoas a reflectir sobre os animais que realmente somos. A minha intenção original era simplesmente colocar algo que fosse incongruente e suficientemente contrastante de modo a destacar-se de forma nítida do seu entorno. Algo que fosse simplesmente estúpido.

As instalações seguintes foram criadas em locais mais acessíveis e, para meu grande espanto, reparei que, tal como as gaivotas tinham feito com a peça no aterro, as pessoas começaram a congregar naturalmente à volta do Estúpido. Houve uma atracção imediata e instintiva. Esta interacção imprevista acabou por transformar toda a instalação num acto performativo onde o inanimado, mas amigável, Estúpido actua como um catalisador para a interacção humana. Aquilo que começou como uma busca por uma boa photo op acabou por evoluir para uma performance viva sobre a nossa natureza estupidez humana, que eu gosto de observar e registar. Ser-se estúpido, é estúpido. Mas também pode ser interessante. E divertido.


ESTÚPIDO × PESSOAS:


O projecto Os Estúpidos é baseado na ideia de interacção. Isso, e obter boas fotos para a minha colecção. Gosto especialmente de fotos de pessoas a tirar fotos. Se são selfies, ainda melhor. Nada define a estupidez como tirar uma selfie enquanto se fala com um objecto colorido inanimado. Numa das primeiras instalações, observei pessoas a sentarem-se com o Estúpido para tirarem uma selfie enquanto a tinta ainda estava fresca, o que, por si só, comprovou o fundamento do projecto. Sinto-me permanentemente espantado pelo modo como as pessoas se sentem atraídas por estas figuras. E, acima de tudo, pelo modo como reagem na sua presença. É como se existisse aqui uma força maior em acção, fazendo com que adultos racionais soltem sem reservas a criança que têm dentro de si. As crianças sentem-se especialmente atraídas por eles, mas, lá está, sendo de facto crianças é de esperar que assim seja. Mas os adultos também se tornam crianças renascidas, uma transformação que pode ser bastante mágica de observar.

O objectivo é deixar estas criaturas pacíficas conviverem com pessoas nos seus habitats naturais, estimulando uma interacção activa entre elas. Vejo isto como oferecendo ao público um elemento inesperado e catalisador que cria um quadro vivo, uma espécie de performance improvisada com participantes involuntários guiada pelo impulso e o acaso.

O Estúpido é sempre o Estúpido. Uma figura tipo camaleão que assume diferentes cores e posturas de acordo com o local e o seu estado de espírito. Cada cor pode expressar um estado emocional diferente. Algumas pessoas dão-he um nome pessoal, mas para mim será sempre o Estúpido. O único e inimitável.






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